domingo, 18 de julho de 2010

ENTRE AS ROSAS

ENTRE AS ROSAS



Era final de inverno...

Mais um ano havia passado e não se chegara

a nenhuma conclusão.







Os partidários das diversas facções, dia após dia,

perdiam-se em longas e intermináveis discussões

sobre esta ou aquela candidata,

sem chegarem a um consenso.









Decantava-se a beleza da papoula,

as qualidades das alfazemas,

o perfume dos cravos,

as virtudes de pureza e humildade de lírios

e violetas.












Tudo em vão...

Num canto despretensioso do mundo,

onde as espécies vegetais cresciam

silenciosamente, um pequeno arbusto travava

sua luta diária pela sobrevivência,

alheio a toda sorte de discussões.









Conformada com sua forma tosca,

retorcida, prenhe de espinhos pontiagudos

e consciente de que nunca alcançaria

a beleza de um dente-de-leão,

acostumara-se a ser desprezado e humilhado,

sem, no entanto, deixar de prestar atenção

nas pequenas criaturas que dependiam

de sua existência para sobreviver.





A elas dedicava a sua vida,

emprestando a segurança de seu tronco

e ramos para abrigar insetos das chuvas

e ventanias.










Era feliz, pois, se não tinha a beleza,

tinha a utilidade, e isso lhe bastava.

Naquela manhã fria de final de invernia,

ainda não totalmente desperta da noite,

a plantinha rude viu despregar do céu

uma linda estrela cor de prata.

Sorrindo, acompanhou-lhe a trajetória

em arco perfeito pelo céu escuro,

descendo, descendo...









Em direção à floresta ainda adormecida.

Era tão suave e linda aquela forma, que,

instintivamente, todos na floresta,

árvores, arbustos, pássaros e flores,

acordados pela luz repentina,

curvavam-se para vê-la passar.








A estrela flutuou entre sorrisos,

agradecendo a simpatia da floresta,

até chegar perto do arbusto cheio de espinhos.

Aproximou-se lentamente da plantinha

e falou-lhe docemente.













Não te inscrevestes na eleição da rainha das flores,

por isso vim pessoalmente buscar-te...

Mas, senhora... gagejou a planta, ...eu??

Como posso aspirar a ser rainha de qualquer coisa...

não vês o quanto sou feia!!

O Senhor da vida ordenou-me que

viesse buscá-la...












Se este é o seu desejo...aqui me tens,senhora...

E partiram em um rastro de luz,

na direção do conselho das flores.












As demais candidatas riram-se da pretensiosa

intenção daquele feio arbusto.

A platéia silenciou quando entrou no ambiente

a primavera, anunciada pelo som

de mil clarins.






O arbusto, espantado, reconheceu a estrela

que a trouxera até ali.










Então, senhores conselheiros - questionou

a primavera- o Senhor da vida deseja saber

se já encontraram a legítima representante

de Seu Reino?







Não, senhora. Estávamos para decidir-nos,

quando fomos interrompidos pela vaidade

dessa planta sem qualidades que aí está.

Veja! Quanta ousadia...














A primavera voltou-se para a plantinha que

chorava de vergonha e humilhação

e perguntou:

O que mais desejas nesta vida?

E a planta respondeu entre lágrimas...

Amar e ser amada...





A primavera, então,

tocou os galhos espinhosos e, logo,

botões surgiram dos galhos semi-nus,

abrindo-se em mil pétalas sedosas,

de perfume inesquecível...

Qual é o teu nome? Perguntaram todos.

Eu sou a rosa...









PUBLICADO

18 07 10


AS


22:41

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