quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A hora da morte

A hora da morte



De todas as certezas que pode ter
o ser humano, a morte é sem dúvida uma delas.




Quem nasce já está fadado à morte.
Mensageira estranha, por vezes,
abraça antes os mais jovens
e os mais sadios, deixando para trás idosos e doentes.




Contudo, sempre chega.
Paradoxalmente, é um dos assuntos que quase todo mundo evita tocar.




É por isso mesmo que, quando chega, sempre surpreende.



Também por esse motivo, muitas lágrimas são derramadas sobre os túmulos.





Lágrimas que se casam a exclamações como:
"Ah, se eu soubesse que era o seu último dia!
Se eu soubesse que ele iria morrer,
não teria sido tão mau! Se eu soubesse
que ele partiria tão cedo, teria abraçado mais,
dito como o amava, sido melhor para ele."

Por tudo isso, é bom considerar que nossa
existência é muito efêmera. Hoje estamos aqui,
amanhã poderemos não nos encontrar
mais deste lado da vida.




O ser amado que se despede para o trabalho diário,
pode não retornar. A criança que corre pela rua,
rumo à escola, pode não voltar para casa.




Como a irmã daquele menino de apenas 10 anos.
Ele entrou em casa e chamou pela mãe.



Ela estava no quarto, sentada, quieta.




"Sua irmã morreu esta manhã, Michael." - foi o que disse.




O conceito de morte
não tinha um significado concreto para aquele garotinho.




Durante muito tempo ele perguntava
à mãe: "ela vai voltar?
Por que ela teve de morrer?"

E ficava em frente à casa,
esperando que o ônibus escolar a trouxesse de volta.




Entrava no quarto dela e apanhava a sua
pasta escolar. Tudo estava bem arrumado
- os cadernos de um lado,
os livros do outro, o estojo de lápis no meio.

A faixa preta de elástico
que ela usava nos cabelos quando foi
para o colégio naquela manhã.





Depois, devolvia tudo certinho no seu lugar.
Perguntava-se, se a irmã ficaria zangada
por ele ter mexido em suas coisas.

O que ele realmente jamais esqueceria foi
o que aconteceu duas noites antes da irmã morrer.




Ele esperou o ônibus que a trazia da escola.
Estava preocupada. Esquecera de um trabalho
de arte que devia entregar no dia seguinte.




Ele a foi ajudar e juntos fizeram
12 borboletas coloridas, de antenas
enroladas e asas triangulares.





No dia em que ela morreu, ele estranhamente despertou mais cedo.



Observou-a se aprontando para a escola.

Como o vão da escada no prédio era muito escuro,
ele ficou segurando a porta aberta para que
a luz do apartamento a ajudasse enxergar os degraus.




Uma das mãos dela segurava a pasta, a outra
balançava, enquanto descia os degraus.

Estava de uniforme azul. Tinha só 14 anos.
E suas últimas palavras para Michael foram:
"Até logo, irmão."

Passadas mais de 4 décadas, Michael
ainda guarda a lembrança de sua irmã.




Quando vê uma borboleta, recorda
de imediato daquele último trabalho que fizeram juntos.

E espera. Porque, um dia,
ele também fará essa viagem para o grande além.

Nesse dia, finalmente, ele a verá outra vez.

...............

Ame muito. Usufrua a companhia dos afetos.

Quando um deles se for, poderá acalentar
seus dias com as doces lembranças dos afagos compartilhados.

E isso amenizará sua grande saudade.




desc aut



PUBLICADO 28 01 2010 AS 16:57 HRS

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