quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma história de amor impossível




Conta a lenda que uma jovem mariposa de corpo
frágil e alma sensível - voava ao sabor do vento certa
tarde, quando viu uma estrela muito brilhante, e se
apaixonou. Excitadíssima, voltou imediatamente para
casa, louca para contar à mãe que havia descoberto o
que era o amor.






- Que bobagem! - foi a resposta fria que escutou. -
As estrelas não foram feitas para que as mariposas
possam voar em torno delas. Procure um poste ou um
abajur, e se apaixone por algo assim; para isso nós
fomos criadas.





Decepcionada, a mariposa resolveu simplesmente
ignorar o comentário da mãe, e permitiu-se ficar de
novo alegre com a sua descoberta. "Que maravilha
poder sonhar!" pensava. Na noite seguinte, a
estrela continuava no mesmo lugar, e ela decidiu que
iria subir até o céu, voar em torno daquela luz
radiante, e demonstrar seu amor.






Foi muito difícil ir além da altura com a qual
estava acostumada, mas conseguiu subir alguns metros
acima do seu vôo normal.



Entendeu que, se cada dia
progredisse um pouquinho, iria terminar chegando na
estrela, então armou-se de paciência e começou a tentar
vencer a distância que a
separava de seu amor.


Esperava com ansiedade que a
noite descesse, e quando via os primeiros raios da
estrela, batia ansiosamente suas asas em direção ao
firmamento.

Sua mãe ficava cada vez mais furiosa:



- Estou muito decepcionada com a minha filha - dizia. -
Todas as suas irmãs, primas e sobrinhas já têm lindas
queimaduras nas asas, provocadas por lâmpadas!



Só o
calor de uma lâmpada é capaz de aquecer o coração de
uma mariposa; você devia deixar de lado estes sonhos
inúteis, e arranjar um amor que possa atingir.




A jovem mariposa, irritada porque ninguém respeitava o
que sentia, resolveu sair de casa. Mas, no fundo -
como, aliás, sempre acontece - ficou marcada pelas
palavras da mãe, e achou que ela tinha razão.





Por algum tempo, tentou esquecer a estrela e apaixonar-
se pela luz dos abajures de casas suntuosas, pelas
luminárias que mostravam as cores de quadros magníficos,
pelo fogo das velas que queimavam nas mais belas
catedrais do mundo.



Mas seu coração não conseguia
esquecer a estrela, e, depois de ver que a vida sem o
seu verdadeiro amor não tinha sentido,
resolveu retomar sua caminhada em direção ao céu.






Noite após noite, tentava voar o mais alto possível,
mas quando a manhã chegava, estava com o corpo
gelado e a alma mergulhada na tristeza. Entretanto,
à medida que ia ficando mais velha, passou a
prestar atenção em tudo que via à sua volta.



Lá do alto,
podia enxergar as cidades cheias de luzes, onde
provavelmente suas primas, irmãs e sobrinhas já
tinham encontrado um amor.



Via as montanhas geladas,
os oceanos com ondas gigantescas, as nuvens que mudavam
de forma a cada minuto.



A mariposa começou a amar
cada vez mais sua estrela, porque era ela quem a
empurrava para ver um mundo tão rico e tão lindo.




Muito tempo se passou, e um belo dia ela resolveu voltar
à sua casa. Foi então que soube pelos vizinhos que sua
mãe, suas irmãs, primas e sobrinhas, e todas as
mariposas que havia conhecido já tinham morrido
queimadas nas lâmpadas e nas chamas das velas,
destruídas pelo amor que julgavam fácil.




A mariposa, embora jamais tenha conseguido chegar à
sua estrela, viveu muitos anos ainda, descobrindo
toda noite algo diferente e interessante.



E
compreendendo que, às vezes, os amores impossíveis
trazem muito mais alegrias e benefícios que aqueles que
estão ao alcance de nossas mãos.

Paulo Coelho

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