quarta-feira, 10 de junho de 2009

NO REINO DAS BORBOLETAS





À beira de um charco, formosa borboleta,

fulgurando ao crepúsculo,

pousou sobre um ninho de larvas e falou

para as pequenas lagartas confusas:

Não temam! Sou sua irmã de raça!





Venho para lhes trazer esperança.

Nem sempre permanecerão coladas

às ervas do pântano!



Tenham calma, fortaleza e paciência.

Esforcem-se para não sucumbir aos golpes

da ventania que, de quando em quando,

varre a paisagem. Esperem!

Depois do sono que as aguarda,

todas acordarão com asas de puro veludo,

refletindo o esplendor solar...






Então, não mais se arrastarão,

presas ao solo úmido e triste.

Adquirirão preciosa visão da vida,

pois poderão subir muito alto e seu alimento

será néctar das flores... Viajarão deslumbradas,

contemplando o mundo, sob novo prisma!





Observarão o sapo que nos persegue,

castigado pela serpente que o destrói,

e verão a serpente que fascina o sapo,

fustigada pelas armas do homem.

Enquanto a mensageira fez ligeira pausa,

ouviam-se exclamações admiradas:






Ah, não posso crer no que vejo!

Que misteriosa criatura!

Será uma fada milagrosa?

Nada possui de comum conosco...





Irradiando o suave aroma do jardim

de onde viera,

a linda visitante sorriu e continuou.

Não se iludam!




Não sou uma fada celeste!

Minhas asas são parte integrante

da nova forma que a natureza lhes reserva.

Ontem, eu vivia com vocês;

amanhã viverão comigo!





Flutuarão no imenso espaço,

em vôos sublimes em plena luz.

Libertas do lodaçal,se levarão felizes.

Conhecerão a beleza das copas floridas

e o saboroso néctar das pétalas perfumadas.






Contemplarão a altura e a amplitude

do firmamento...







Logo após,lançando carinhoso olhar à família

alvoroçada, distendeu as asas coloridas

e, voando com graciosidade,

desapareceu no infinito azul.








Nisso chegou ao ninho a lagarta mais velha

do grupo, que estava ausente,e,ouvindo

os comentários empolgados das companheiras

mais jovens, ordenou irritada:







Calem-se e escutem! Tudo isso é insensatez,

mentiras,divagações... Não nos iludamos!







Nunca teremos asas!

Ninguém deve filosofar...






Somos lagartas, nada mais que lagartas.

Sejamos práticas,

no imediatismo da própria vida.

Esqueçam-se de pretensos seres alados

que não existem.



Precisamos simplesmente comer e comer...

Depois vem o sono, a morte...

E o nada... Nada mais...





As lagartas calaram-se, desencantadas.

Caiu a noite e, em meio à sombra,

a lagarta-chefe adormeceu, sem despertar

no outro dia.






Estava completamente imóvel.

As irmãs, preocupadas, observavam,

curiosas, o fenômeno...






Depois de algum tempo, para espanto de todas,

a ignorante e descrente orientadora

surgiu como veludosa borboleta,

de asas leves e ligeiras,

a bailar no ar...



À semelhança da formosa borboleta

que desceu às faixas escuras onde

rastejavam suas irmãs lagartas,

um dia a humanidade também recebeu

a visita de Sublime Anjo, que veio trazer

consolo e esperança.





Falou da vida abundante,

que pulsa além do casulo físico.






E para provar que o que dizia é realidade,

Ele próprio, após desvencilhar-se

do corpo físico,






surgiu mais livre e mais brilhante que antes.

Subiu, com a leveza de anjo alado,

e desapareceu na imensidão azul,

diante de quinhentas testemunhas,

admiradas, na distante Galiléia...






E, dois milênios depois,

ainda existem aqueles que preferem

acreditar que o que precisamos fazer

é comer, comer,




dormir e esperar o nada... Nada mais

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